Marisa Monte saboreia a grandeza e a permanência do cancioneiro autoral na radiante sinfonia pop do show ‘Phonica’

  • 02/11/2025
(Foto: Reprodução)
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW Título: Phonica Artista: Marisa Monte Data e local: 1º de novembro de 2025 na Brava Arena Jockey (Rio de Janeiro, RJ) Cotação: ★ ★ ★ ★ ★ Marisa Monte brilha no palco da Brava Arena Jockey na noite de ontem, 1º de novembro, ao fazer a segunda das três apresentações cariocas do show 'Phonica' Rodrigo Goffredo ♬ Em que pese a luxuosa moldura orquestral, o show Phonica representa sobretudo a celebração da grandeza e da permanência do cancioneiro autoral de Marisa Monte na memória popular do Brasil ao longo de 34 anos. Se a cantora impôs padrões e se tornou referência ao surgir em 1987 com imediata aura de artista cult, a compositora – apresentada ao Brasil em 1991 no segundo álbum de Marisa, Mais – enfrentou resistências iniciais entre os críticos embevecidos com a artilharia vocal da intérprete que conquistara o Brasil com o álbum ao vivo de 1989 (caso deste colunista, então no posto de crítico de MPB do jornal O Globo). Três décadas depois, o tempo rei coroa o talento sobressalente da compositora que se impôs na medida em que a cantora foi ampliando a discografia com álbuns de repertório sempre predominantemente autorais. Com o bônus de embalar esse cancioneiro com orquestra, sob a batuta do maestro André Bachur, regente que ocupa o centro do palco com a cantora, Marisa Monte faz grande apanhado dessa obra em Phonica, sem a solenidade dos concertos sinfônicos. Sem o compromisso de apresentar o repertório de álbum recém-lançado, como nas turnês dos shows anteriores Portas (2022 / 2023) e Verdade, uma ilusão (2012 / 2013), a cantora segue em Phonica um roteiro fixo de 27 músicas, das quais 18 trazem o nome de Marisa Monte nos créditos, geralmente com os parceiros Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. As músicas são apresentadas com arranjos inéditos, criados por Ubiratan Marques (maestro da Orquestra Afrosinfônica, da Bahia), o violinista Newton Carneiro e os pianistas Thiago Costa, Débora Gurgel e Jether Garotti. Jether, por exemplo, decorou Vilarejo (Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Pedro Baby, 2006) sem dissipar a leveza dessa canção que abre o roteiro com o coro instantâneo da plateia – coro que se repetiria com o mesmo fervor em músicas posteriores como Amor, I love you (Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2000) e Ainda bem (Marisa Monte e Arnaldo Antunes, 2011). Marisa Monte segue em 'Phonica' um roteiro predominantemente autoral, mas que tem músicas de Gilberto Gil e Nando Reis Rodrigo Goffredo Assim como Vilarejo, todas as músicas tiveram preservadas as arquiteturas originais porque Phonica é sobretudo um concerto pop. A linguagem da música erudita é perceptível em diversos momentos, como na introdução da canção ⁠É você (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2002), mas fica evidente, ao longo das quase duas horas de espetáculo, que Phonica é em essência um show de Marisa Monte para o público de Marisa Monte. A orquestra é o confeito que dá sabor adicional a uma turnê moldada para arenas como a carioca Brava Arena Jockey, na qual Phonica aportou neste fim de semana para três apresentações que dão sequência à turnê iniciada em Belo Horizonte (MG) em 18 de outubro. Tanto que, ao lado da orquestra formada por 55 músicos, com direito a dois solistas, Daniel Grajew no piano e Talita Martins na harpa, há a banda de Marisa. Essa banda é um quarteto composto por Alberto Continentino (baixo), Dadi Carvalho (na guitarra e no violão, e não no baixo, como de hábito), Pedrinho da Serrinha (cavaquinho e percussão) e Pupillo (bateria). Sem falar que a própria Marisa também se acompanha em algumas músicas, tocando ukelele ou guitarra. Claro que a presença de uma orquestra no palco altera a ambiência. O choro De mais ninguém (Marisa Monte e Arnaldo Antunes, 1994) ganha ar de seresta sinfônica. ⁠Segue o seco (Carlinhos Brown, 1994) virou quase peça de câmara em que canto e orquestra se afinaram em total sintonia. Panis et circenses (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1968) e ⁠Cérebro eletrônico (Gilberto Gil, 1969) – lembrança sagaz na era da IA – evocam os arranjos tropicalistas do maestro Rogério Duprat (1932 – 2006), sendo que Cérebro eletrônico tem vibração roqueira atípica em roteiro pautado por canções em que Marisa expõe memórias, crônicas e declarações de amor. E, nessa seara, a balada Depois (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2011) se confirma uma das maiores e mais felizes canções de todos os tempos, avalizada pelo caloroso coro popular. Menos massiva, Aliança (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte, Pedro Baby e Pretinho da Serrinha, 2017) também se impõe como joia de alto quilate da canção popular romântica. Marisa Monte canta 27 músicas em 'Phonica', show no qual junta a própria banda com uma orquestra Rodrigo Goffredo Como a cantora deu voz a essas canções com leveza e felicidade, esbanjando a costumeira elegância nos gestos teatrais que acentuam o sentido de letras como a da canção Diariamente (Nando Reis, 1991), Phonica resulta em mais um espetáculo irretocável de Marisa Monte. Até o figurino e o adereço floral do cabelo corroboram para realçar a atmosfera de beleza e leveza da sinfonia pop em que Marisa Monte ajusta com precisão o canto à potência atual da voz, com direito a alguns gorjeios operísticos. A diferença é que, no show Portas, as imagens exuberantes dos telões disputavam atenções com as músicas (até porque, do ponto de vista autoral, Portas é o álbum com menor poder de sedução da discografia de Marisa). Em Phonica, espetáculo primoroso que merece registro audiovisual, o aparato visual de Batman Zavareze contribui para a beleza do radiante concerto sem se impor sobre a ambiência musical. Em suma, o concerto pop é baphônico porque, já perto de completar 40 anos em cena, Marisa Monte continua mostrando que sabe exatamente o que faz e como faz, como cantora referencial e como inspirada compositora, dona de obra que vem atravessando gerações com inabalável apelo popular. Marisa Monte divide o centro do palco com o maestro André Bachur, regente da orquestra de 55 músicos Rodrigo Goffredo Marisa Monte apresenta uma sinfonia pop que também prima pela beleza visual Rodrigo Goffredo

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2025/11/02/marisa-monte-saboreia-a-grandeza-e-a-permanencia-do-cancioneiro-autoral-na-radiante-sinfonia-pop-do-show-phonica.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

Top 5

top1
1. Nosso Quadro

AgroPlay

top2
2. Vacilão

Zé Felipe

top3
3. Erro Gostoso

Simone Mendes

top4
4. Do Fundo da Grota

Baitaca

top5
5. Ninguém explica Deus

Preto No Branco

Anunciantes